Estima-se que os brasileiros compraram mais de 7 mil casas em Orlando e região, nos últimos quatro anos. Muitos foram os fatores que estimularam tais investimentos na Flórida, entre eles: o câmbio favorável, a confiança na economia americana, a crise política no Brasil e até o sonho de viver na América. Mas, será que as expectativas se realizaram? A seguir investidores relatam suas experiências e aprendizados nesses últimos anos.
A paranaense Rachel O. é dona de duas casas, uma em Fort Myers e outra em Kissimmee, ambas regiões metropolitanas de Orlando. A primeira destinada à locação de longo prazo e a segunda para temporada. Recentemente, ela ficou indignada ao saber que a Clubhouse do condomínio Paradise Palms não pertencia aos moradores. Mas, o que mais deixa Rachel surpresa é o fato de ser obrigada a pagar uma mensalidade duas vezes mais cara do que lhe prometiam.
Rachel comprou as casas, escolheu um corretor de imóveis pela Internet e não teve o cuidado de avaliar a experiência do profissional. “Estamos tentando reverter judicialmente tal situação. Ali houve uma confluência de fatores: a nossa inexperiência na hora da compra, afinal, somos acostumados que um condomínio eseu club house sempre pertencem aos condôminos, e os brokers que não tinham essa real informação. Nada foi nos enfatizado no ato da compra, nem mesmo no ato do closing.”, explica Rachel.
“Os direitos dos proprietários foram violados, e muito. Primeiro, o contrato de aparência. Quando compramos a casa, em todos os folders do Paradise, a maior propaganda era o club house. A construtora Lennar desprezou os proprietários e fechou negócio com a Scandi, que vem deixando aquele clubhouse cheio de cartazes de propagandas que, ao meu ver, somente poluem o local e desvaloriza o bem como um todo”, acredita a investidora.
Mesmo com todos os aborrecimentos, Rachel continua considerando o mercado de locação imobiliária nos Estados Unidos mais interessante que o brasileiro, e entende a importância de trabalhar com um corretor de imóveis qualificado, capaz de assessorá-la na interpretação correta dos contratos. “No Brasil não temos retorno nem de 0.2% na locação mensal, e nos EUA esse retorno vai de 5 a 8%, o que é um plus”, explica.
O paulista Marco M. é outro investidor apaixonado por Orlando. Investe na cidade desde 2011 e se mudou com a esposa e os dois filhos para lá em 2015. Como Rachel, Marco também reconhece que poderia ter evitado alguns erros se fosse bem assessorado desde o início. “Escolhi meu primeiro corretor de maneira incorreta, mas, depois, por indicação de amigos do Brasil, vi que precisava trabalhar com profissionais sérios para fazer negócios mais lucrativos e com segurança”, explica.
Marco conta o caso de um apartamento que tentou comprar em Celebration, cidade projetada pela Disney onde celebridades brasileiras, como Silvio Santos, Rubens Barrichello e Glória Pires, têm casas. “O apartamento estava com problemas estruturais que foram identificados por meu corretor antes mesmo da conclusão do negócio. Tenho consciência que ele foi fundamental para evitar um prejuízo mais tarde”, diz Marco, referindo-se a Guilherme Mello, um dos corretores da imobiliária brasileira TALENT Realty.
Segundo o CEO da Talent, Ricardo Molina, é muito importante a transparência e o diálogo entre a imobiliária e o comprador. “Um exemplo são aqueles que não explicam corretamente a complexidade do mercado imobiliário americano e as diferenças com o Brasil. Um de nossos atuais clientes, anteriormente, confiou no que um outro corretor em Miami havia prometido e acabou surpreendido”, revela.
“Ele sacou suas economias da poupança para comprar duas casas no condomínio Lucaya Village, em Kissimmee, e acreditou que teria um retorno de 10% ao ano, pois foi isso que o corretor de Miami lhe garantiu. Todavia, suas casas rendem cerca de 4-5% ao ano. Passado o choque de realidade, ele entendeu que esses são os números possíveis deste mercado”, explica o brasileiro que há mais de 10 anos atua como corretor imobiliário em Orlando.
Nos Estados Unidos, apenas imóveis comerciais de alto valor, como restaurantes, farmácias e grandes lojas oferecem rendimento superior a 7% ao ano. Segundo Molina, os números do mercado americano são mais comportados que do Brasil. “O brasileiro está acostumado com juros de dois dígitos porque embutem uma inflação de 8%, mas a rentabilidade real gira em torno dos mesmos 4% oferecidos pelos imóveis nos Estados Unidos, com a vantagem que a economia aqui é bem mais estável e o rendimento é em dólar”, explica Ricardo.